Modo de Uso - Claire de Santa Coloma
CRÍTICA - A perspectiva de Daniel Lima Arnaut
Por norma, o texto que acompanha uma exposição condiciona e limita a relação que estabelecemos com as obras. O título ou a descrição técnica, em particular, conseguem ter uma influência extraordinária naquilo que experienciamos.
Na exposição “Modo de uso”, de Claire de Santa Coloma, a “folha de sala” tem um papel oposto por encorajar o espectador a interagir com as obras de forma heterodoxa. Aquilo que é efectivamente um manual de instruções para as nove esculturas em exibição, começa por explicar que não é um guia, e que a sua leitura e o seu cumprimento não são obrigatórios.
Sempre num tom humorístico, depois da introdução o manual divide-se em várias partes. Em “Utilização”, somos recomendados a seguir a nossa intuição, e a explorar as obras através do tacto ou do olfacto. Embora não devam ser confundidas com objectos funcionais, como uma cadeira ou uma mesa, qualquer relação estabelecida é válida e, se a interacção gerar aborrecimento, é sugerido passar para a próxima obra, ou mesmo considerar sair da exposição. Em “Instalação”, a artista oferece vários cenários em como as esculturas podem ser úteis e de como as instalar sem que estas percam o seu carácter artístico. Em “Segurança”, “Limpeza e Manutenção” e “Ambiente”, são feitas advertências que vão desde a eventual colisão contra as esculturas suspensas até à frequência com que devem ser enceradas, passando pelo seu possível uso como combustível em forma de lenha. O manual conclui com “Aviso”, onde a artista descreve o propósito original das obras: que é a sua interacção com o público. A última parte, “Apoio”, contém acesso a mais informações.
“Modo de uso” é composto por nove esculturas de vários tipos de madeiras, complementadas, em alguns casos, por partes de metal visíveis. As superfícies de madeira incitam ao toque, e a sua escala caseira disponibiliza-as para uma interacção íntima com o espectador. Embora exista familiaridade nas formas - por evocarem objectos ordinários, ou pela própria relação que as obras estabelecem entre si -, esta impressão serve apenas para tranquilizar o espectador e para o convidar a participar.
Ao perto, este convite fica a perder pelo aspecto inacabado e descuidado dos acabamentos e das soluções em metal que suportam as esculturas. Particularmente nas obras suspensas, o acessório metálico barateia as formas orgânicas, e interfere com a simplicidade do conjunto. O título das obras, como por exemplo Squat ou Touch, reforça o tipo de interacção que a artista procura com este trabalho.
Este apelo sincero desembaraça quem leu a “folha de sala” e reduz a distância entre o espectador e as obras, criando uma experiência artística menos intimidante. A exposição termina com Recline and Release, uma alcatifa com duas peças de madeira lado a lado, onde nos podemos reclinar e libertar dos nossos preconceitos em relação à arte contemporânea.
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