A Estrutura da Perceção - Mário Lopes
CRÍTICA - A perspectiva de Daniel Lima Arnaut
Exposição patente na Galeria Valbom de 18/01/2020 - 13/03/2020.
“A Estrutura da Perceção” é uma exposição do escultor Mário Lopes, composta por esculturas, pinturas em acrílico e xilogravuras, cujo foco é, de acordo com o texto que acompanha a exposição, “em como a vida se desenvolve no tempo e espaço, a importância de outras culturas e da estrutura de relações que conectam as relações humanas…”.
A primeira impressão que este conjunto de obras provoca é a de uma amostra topográfica da experiência do artista, um mapeamento plástico. As esculturas dispostas no centro da sala passam por maquetes de paisagens ou de formas ambíguas entre a arte e a arquitectura. Os quadros em redor destas sínteses funcionam como plantas ou esquemas emocionais e dinâmicos, e as gravuras como postais de visita que contém impressões das inúmeras possibilidades destas estruturas de percepção.
A integridade e a pureza das formas e das superfícies escultóricas, em pedra ou em cortiça, com a excepção sardónica de in craticulam spirat, remetem para um universo virtual mas representativo. Quando viajamos de um ponto para outro, é a paisagem que preenche o espaço entre a partida e a chegada. É assim que os planaltos (plano+alto), que sobressaem em peças como Além Tejo e Expansion of a landscape II, representam nexos de interacções em verdadeiras peças centrais de encaixe, ou no caso de cor aurea, marcos geodésicos ou pontos de paragem.
Mesmo não havendo uma correspondência directa entre as imagens e as esculturas, existe uma sequência ou uma hierarquia implícita na sua produção. Estas plantas topográficas capturam o dinamismo inerente às interacções entre “planaltos culturais”, através do contraste das cores e do movimento entre as formas pintadas. Embora complementares, o significado das esculturas é multiplicado pelas pinturas que reforçam o seu carácter mecânico sem nunca chegar a ser maquinal. No fim desta sequência, as gravuras suplementam as obras modulando-as e sintetizando-as, em instantâneos de forma, como postais de visita ou selos de viagem, que caricaturam a experiência.
Somos apanhados de surpresa quando reparamos que as duas esculturas pequenas, terram I e terram II, em terracota, assemelham-se a uma habitação ou a corpos amorfos com membros e orifícios. Os elementos orgânicos, que os distinguem do resto das esculturas, sugerem um universo habitado ao mesmo tempo que remetem os outros trabalhos para uma escala monumental. Esta inesperada existência de vida, e o fluxo de experiência que lhe é inerente, provam que o trabalho do artista embora pareça minimalista, não o é por conter o seu próprio espaço, e porque se remete para uma condição representativa, simbólica.
Se imaginarmos o mundo como uma maquete, ou se olharmos pela janela de um avião em voo, a complexidade das nossas experiências ou da nossa vida em geral, pela distância que se cria, dá lugar a um pensamento mais amplo, mais macro. Julgo ser esta distância e este entendimento que a obra de Mário Lopes procura.
"Além Tejo", 2011, de Mário Lopes. "Expansion of a landscape II", 2012, de Mário Lopes
Fotografia: Fotografia:
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